Cedo lembrei do aniversário dela. Lembrei do ritual que vivíamos
nestes dias. Se fosse num dia de semana, ela já teria recebido os parabéns pelo
aniversário e meu pai, já teria também servido ainda na cama o primeiro
cafezinho do dia... E mas, se dia 17 fosse num final de semana, mais
precisamente num sábado, seria muito
muito festivo... eu ficaria ansiosa e
faria o impossível para não mudar os acontecimentos... os tempos eram outros.
Hoje acredito que sempre fazia um dia lindo, penso que
sempre tinha sol... E, inúmeras vezes, eu me sentava no banco do caramanchão de
rosas que tinha na frente de casa. Esperando. Por pouco tempo...eu corria para dentro de casa... eu ficava
extremamente agitada. Ela, cheia de paciência, com o mesmo olhar que sempre me
amor, me abraçava e afirmava com sabedoria que tinha, que o tempo era assim
mesmo... lento quando precisávamos dele.
Enquanto esperávamos, meu pai preparava a embalagem do saco
de farinha de mandioca, novinha, que
tinha comprado para levarmos... ao lado, ficava o saco de laranja açúcar, recém
apanhada do pé, que ficava atrás da oficina... ela atendia a visita rápida das
vizinhas e amigas que a cumprimentavam...
E quando eu menos esperava, surgia na curva a rural verde.
Ela a alegria chegando. Hermano dirigindo, Yvette ao lado, Claudia, Léo e Maninho
no banco traseiro. Lembro dos seus olhares e dos seus sorrisos... éramos cheios
de cumplicidade... A nossa festa
começava.
Enquanto minha mãe e meu pai recebiam todo o carinho deles,
nós quatro, com toda a energia do mundo corríamos vivendo a liberdade que
tínhamos... Eu tinha muito orgulho de dividir todo meu espaço...
O café era servido e o pãozinho tinha por companhia a tradicional
bananinha frita. E depois, depois rumávamos todos para Itajaí, e passávamos o final de
semana alí... e festejávamos com todos...
Tenho certeza que era o melhor presente que minha mãe
recebia. Ficar junto com suas irmãs... Viver a família da qual amava e muito se
orgulhava...
Tenho agora, momentos semelhantes com Yvette e Hermano. Com
a Léo e com a Claudia e guardo com carinho a amizade especial que tive com o
Maninho.
Hoje, aqui, não vai ter festa. Há muito tempo, ela partiu. Acredito
que, neste dia, em algum lugar no céu a nossa, a minha Nega Zélia, está comemorando. Ela pode. Yvette, Hermano,
hoje nós ficamos só com a saudade.
(Fatima, 17/03/2016)
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