29 de dez. de 2016



Das ruas da cidade

As ruas da minha infância, não tinham calçadas nem eram calçadas...
Nas ruas da minha infância ficavam pegadas do homem, do bicho... 
de mulheres, de crianças... do tempo.
até olho d'água nascia da terra...
Nas poças da chuva refletia o meu céu.
Naquelas ruas, também encontrávamos esculturas da lama das enchentes,
No encontro da terra com o rio, eu sentia cheiro de liberdade...
Tinha beleza no horizonte distante, tinha cheiro de mistérios.
Sombras de figueiras resistentes, agua fresca de poço profundo.
Caminhos de casas de fazenda, outros caminhos de gado.
Tinha pegadas de tudo e todos.  Rastros de vidas... de mortes.
Aquelas ruas e só nelas eu vivia sonhos e a dor de tudo o que ficava no passado.
Era possível se ouvir o riso dos que partiram, o choro do coração que sentiu a distancia.
Ouvido também era o chamado da mãe preocupada e os passos do pai que retornava,
Cumprimento do compadre, saudação carinhosa da comadre.
Naquelas ruas, sempre o vento me envolvia, me enfeitiçava, me transformava...
Naqueles caminhos, ficaram também  minhas pegadas buscando uma historia interrompida.
Pedaço de vida que nunca reencontrei.

(Fátima - 29.12.2016)