24 de abr. de 2011

Maria Laura


Nesta Páscoa, outra vez, minha alegria maior tem olhos arteiros, cabelos crespos e um jeito todo especial de ser. Tem a velocidade da felicidade que chega repentinamente, a essência que buscamos no viver. Ela existe, e nos faz existir! (Vó Fátima - 24.04.2011)

11 de abr. de 2011

Valente - uma lição de vida.

Um desabafo meu

(o email é comprido, eu sei, quem não tiver tempo, não quiser chorar, ou simplesmente não quiser ler, tudo bem...)

Permitam-me este espaço para um breve desabafo. Sábado à noite quando estava voltando para casa minha mãe ligou, com um tom de voz que já me é familiar e característico, perguntando onde eu estava e se poderia parar na farmácia para comprar uma mamadeira, porque tinham acabado de colocar em nosso quintal um filhote de gato tão pequenininho que mal conseguia andar.

A noite já vinha trazendo o frio e no intuito de protegê-lo minha mãe o embrulhou numa toalha para aquecer seu corpinho mirradinho.

Ele mamou bem pouco – no meu ponto de vista – ou talvez fosse o suficiente para o seu tamanho, mas não sei bem porque, simplesmente dormiu a noite inteira e acordou às cinco da manhã de domingo me chamando. Tentei diversas vezes alimentá-lo, mas ele não respondia às minhas investidas, então como quem procurasse abrigo, dormiu na minha Mao, em meio a miados furtivos, de tempos em tempos, e eu só pedia que ele ficasse bem, porque agora ele tinha amor.

Domingo ele passou inteiro no colo de minha mãe, mamando sempre que acordava, e tenho certeza que apesar de estar tudo aparentemente tranqüilo, no fundo torcíamos para que a segunda-feira logo chegasse, para levarmos ao veterinário.

Entretanto, a nossa noite não terminou bem, ao tirar a fraldinha improvisada para trocar e lavá-lo, minha mãe percebeu que ele estava com uma ferida aberta, enorme, na região do ânus e que, por conta disso, já estava todo tomado de larvas, até nos olhos que ele mal sabia abrir.

Ligamos para o veterinário da família (da parte de quatro patas desta) e o deixamos a par do que estava acontecendo. Ele não estava na cidade e indicou o que poderíamos fazer, que era tentar tirar os bichinhos com um cotonete ou uma pinça, e aplicar iodo para limpar.

Foram várias sessões de limpeza, graças à bravura de minha mãe para lidar com a situação, porque eu só sentia no estômago o sofrimento desse bichinho.
A segunda-feira amanheceu linda aos olhos de quem pudesse vê-la, e logo minha mãe o levaria para o veterinário.

O “Valente”, como ficou conhecido, foi então internado, mas não demoraria muito para que tivéssemos o veredicto: infelizmente, a despeito de todas as nossas esperanças e preces, só restava a ele um caminho – o sacrifício.

O médico veterinário então nos contou que se ele sobrevivesse não teria mais controle de seu ânus e defecaria sem parar, disse ainda que tinha perdido metade de seu nem bem desenvolvido “pintinho”, além de que ele estava, sabe-se lá como , sem ambos olhos. Ao meu verem uma análise fria, os bichinhos o estavam comendo de dentro pra fora.

Diante de tudo isso encontro duas hipóteses para tentar explicar a causa disso tudo, em meio a tantos “se”e porquês:

A primeira, formulada pela minha mãe e o veterinário, certamente para me deixarem “menos indignada”, afirma que pode a ferida ter sido em decorrência da falta de limpeza por parte da mãe-gato ao filhotinho, ainda mais por se tratar de uma região muito propícia, o que espalhou bichinhos por dentro de todo o seu corpinho.

A segunda hipótese é a que grita ao meu coração a mais profunda indignação diante da maldade humana – a violência cometida contra esse gatinho indefeso, quer alguém o ferindo brutal e covardemente, quer afastando-o prematuramente de sua mãe. Por quaisquer que fossem os motivos, como se não bastasse, depois de tudo feito, abandonando-o na casa de alguém, jogando-o à sorte de encontrar mais um coração desalmado, que o abandonaria outra vez.

Em verdade, após esse relato não tão breve assim, posso perceber que, qualquer que seja a verdadeira hipótese, a primeira ou a segunda, ou nenhuma das duas, para mim só decorre de uma coisa: da falta de comprometimento do homem em relação aos animais e sua inobservância ao maior dos princípios (precipuamente moral) que regem esta relação – o da “posse consciente”, porque apesar de um nome tão técnico, tal princípio carrega em si o respeito, o carinho, o afeto e a certeza de que animais precisam de cuidados médicos, higiene e uma alimentação adequada (o que gera custos, muitas vezes bem altos) e, sim, a responsabilidade é toda nossa, humanos! Pois fomos nós quem decidimos, há muito tempo atrás, trazê-los para dentro de nossas casas.

Muitos são os que consideram estes seres vivos apenas como objeto. Decidem hoje comprar ou adotar um cãozinho, por exemplo, sem sequer analisar todas as circunstâncias, prós e contras para mais tarde, displicentemente, os entregarem à sorte das ruas e à um destino incerto. Senão eles próprios, seus filhotes, porque pensam que “um já é demais” e – tarde DEMAIS! – não foram capazes de castrá-los.

Daí é que vimos? ONGs e abrigos lotados, ruas mais ainda, e a responsabilidade é de quem? Não me importa agora.

Foram menos de 48 horas de convívio, mas nossos corações ficarão para sempre maculados. Eu jamais vou ser capaz de conceber essa capacidade “humana”e que Deus me permita jamais presenciar tamanha violência.

Ontem, ao deitar, antes de saber o desfecho da história, eu rezei e chorei, e pedi a Deus que me fizesse compreender o porque do que estava acontecendo. Em meio a tanta felicidade por termos sido adotadas por mais um bichano, fez-nos sofrer tanto e nos fazer sentir tão pequenas diante das coisas do mundo, tão impotentes.

Realmente, Valente foi um herói, muito pra nossa família, mas principalmente para si; respirou até o último momento, buscou forças inimagináveis, miou em meio a seus poucos dentinhos pra chamar atenção, lutou com seu pequeno enorme coração.

Talvez sua missão de vida e mensagem tenham sido essa: que não desistamos da vida nunca! Mesmo que esteja doendo, mesmo que esteja tão difícil de levar, mesmo que seja quase impossível respirar!

Quando todas essas sensações nos acometerem a alma, lembremo-nos do Valente! Que era tão pequeno a ponto de caber na palma da minha mão, mas tão grande para ser imensamente corajoso, mais corajoso que o monstro que lhe causou tanto sofrimento e dor.

Porque apesar do mal que diariamente assola a humanidade (e por ela própria causado), a vida vale a pena e por toda e qualquer vida se compensa lutar, até o fim.
E assim, com um nó na garganta e muitas muitas lágrimas nos olhos eu lhes peço, porque sois meus amigos: vamos divulgar essa mensagem de qualquer forma, vamos lutar contra todo tipo de violência ao animal e vamos pedir aos nossos governantes que passem a enxergar esses animais soltos nas ruas como uma questão de urbanidade e saúde pública, conscientizando a população sobre a posse e guarda de animais.

Mas acima de tudo isso vamos VIVER e permitir que vivam, dignamente, todos os seres do Planeta Terra!

Obrigada, muito obrigada pela atenção!

Maria Eduarda de Souza Ignacio Duarte da Silva
Navegantes, 11 de abril de 2011.(Em respeito ao pequeno Valente e aos sentimentos da "Duda" pelos quais também tenho muito orgulho - Fátima, 11.04.2011).